Prazer, sou a mãe da Mara! | Edna Fidelis

Mah / 26 nov,2017 /ETC

Para vocês ela é Mah, mas aqui dentro de casa Maraisa é Mara ou outros apelidos carinhosos que vou poupá-la desta vergonha rs. Mara pediu para eu fechar esta semana tão importante para ela e eu me senti com tanta responsabilidade que rascunhei diversas vezes meu texto.

Crescer e se entender como mulher negra, lutar, casar com um negro, ter filhas mulheres negras e fazer com que elas tenham o melhor não é fácil; e sabemos que somos exceção. Mas que esta exceção um dia se torne comum e que vocês conheçam um pouco de mim, Mamãe Diva como minhas filhas cismam em falar. hahaha

Nasci em uma época em que a luta dos negros estava bem latente; movimento Black Power, minha juventude nos auge dos anos 70. Isto para conseguir ter mais voz em meio a tanto preconceito e segregação. Estudei a vida toda em escolas públicas e assisti preconceito vindo tanto de “colegas” de sala quanto daqueles que deveriam também educar: os professores.

Quando adolescente meus pais se divorciaram e minha mãe teve que criar os três filhos sozinha; colocando assim, todos para trabalhar. Uma mulher, negra, divorciada, com três filhos negros para criar em 1973. Se hoje o mundo não é nada facilitador para alguém nestas condições, quiçá naquela época.

A partir deste momento, tive a consciência de que o racismo estaria em todos os lugares e que a luta seria grande, cansativa e árdua para conseguir o meu espaço. Nas entrevistas de emprego a preferência sempre era por mulheres brancas; se fosse para lidar com o público então, esquece! Melhor eu nem participar do processo seletivo para não me desgastar ao ver o preconceito sendo esfregado na minha cara.

Eis que minha mãe (aquariana como Maraisa rs), sempre muito sábia, me orientou a estudar e prestar concurso público. Pois assim, ninguém poderia tirar a minha vaga ao ver a cor da minha pele. Além do emprego estar garantido por depender apenas da minha sabedoria. Minha mãe falou para nós três fazermos isso, e lá fomos. Prestei, fui aprovada e entrei no funcionalismo; achei então que estava tudo resolvido. Faria uma carreira como funcionária pública pois dependia apenas dos meus esforços e estudos, porém era um grande engano.

Ali também, como em todo o lugar, o racismo reinava e eu precisava provar 10 mil vezes mais, do que uma mulher branca, que era capaz de estar ali trabalhando no cargo para qual passei. Entretanto, foi lá dentro que aprendi que o negro precisa se impor, mostrar sua capacidade intelectual, enfrentar todas estas batalhas absurdas para chegar onde quiser, e eu cheguei: Diretora de Recursos Humanos.

O tempo passou, me casei com um homem negro chamado Luiz, vieram minhas meninas: Monalisa e Maraisa. Na época nos esforçamos ao máximo para as duas estudarem em colégio particular, não oferecemos luxo para elas, mas a educação e o o conforto elas tinham. Queríamos que tivessem estudo com base garantida para que no futuro pudessem enfrentar qualquer tipo de adversidade com sabedoria, inteligência e não deixar ninguém diminuí-las pela cor da pele. Desde quando eram pequenas eu e o Lu falávamos para elas que o preconceito sempre existiu, que passamos por ele e as duas também passariam em algum momento da vida. Todavia, elas deveriam responder à altura, se orgulharem da cor da pele e saber que sempre nos teriam (e continuam tendo) como apoio.

Uma família com quatro pessoas negras e uma condição financeira estável, não era nada comum nos anos noventa e dois mil. Aliás, ainda hoje quando andamos os quatro juntos atraímos olhares como se fôssemos de outro país. (Sim, vivem perguntando se somos daqui. Porque né? Negro no Brasil é pobre e não frequenta espaços predominado por brancos).
Andar com as meninas bem vestidas, era alvo de olhares e perguntas do país de origem. Quando meu marido estava de branco era pior ainda. Ele poderia ser qualquer coisa, menos enfermeiro trabalhando em multinacional.

O pior de tudo? Mais de TRINTA anos se passaram e apesar da luta da população da negra em ter voz, AINDA sinto e vejo preconceito entre os lugares que frequento: no bairro onde moro, nos shoppings, restaurantes. Se eu comento que trato minha pela com Dra Katleen e meu cabelo com Wilson Eliodorio então? “Nossa! Mas que preta metida!” (Não vou falar desta parte porque a Mara já o fez muito bem em seu vídeo).
O preconceito não precisa ser explícito. Está nos olhares de espanto, está na pergunta “De onde vocês são”, está no comentário “Podemos parcelar” sendo que vou pagar à vista, está na ação de MUITOS vendedores.

Ensinei às minhas filhas que a educação, o conhecimento e o respeito ao próximo, irá ajudá-las a continuar a luta por um futuro mais igualitário. Me orgulho ao ver onde Monalisa e Maraisa chegaram e que não se acanham por terem vivido mais da metade de suas vidas em meios onde eram as únicas negras. A consciência de cada uma veio com o tempo e continua sendo construída com a bagagem adquirida. Saber que as duas possuem faculdade, trabalham no que querem, estão bem encaminhadas e vivendo como querem (podendo voar ainda mais) é o que tranquiliza meu coração e do Lu.

Não queria dizer isso, mas sei que este racismo, este preconceito enraizado está longe de acabar. Mas faço minha parte e sei que minhas filhas seguirão fazendo a delas. Quem sabe meus netos não vêem uma diferença maior no mundo? Que lutemos juntos e juntas.

Edna Fidelis ou Mamãe Diva
Mãe da Monalisa, Maraisa, Mell e Meg Antonia
@mamaedivafidelis

Café com leite? | Rita Lima

Mah / 25 nov,2017 /ETC

“Você não pode falar sobre cabelo crespo…. Você é branca!”

Foi com esse tiro que um dia, em meio a um treinamento de trabalho, me vi tendo que explicar algo que até mesmo para mim era inexplicável. Meu cabelo é crespo, sempre foi.
Passei por toda a via sacra de sofrer com os penteados na infância, a zoeira sobre meu cabelo “bombril”, a fase de tentar alisar a qualquer custo (e inclua nesse custo aquela pasta fedorenta que queimava o couro cabeludo), enfim… Toda essa história que a maioria sabe.


Então… Como EU não poderia falar do meu cabelo apenas por causa da cor da minha pele? Eu nunca tinha pensado nisso…. Até aquele momento.
EU SOU MISCIGENADA! Ponto. Eu sou resultado de uma mistura doida que, não obstante, acontece o tempo todo nesse país. Por que o espanto? Minha pele é morena, escura, “negra de pele clara”, chame como quiser… MENOS de branca. Não, eu não sou branca! Eu sou café-com-leite! rs

Filha de nordestina da pele preta e de um cara de pele branca e cabelo crespo que mal conheço. Adivinha qual foi o sangue que resistiu com força e luta para me criar? BINGO! Mama África, a minha mãe foi mãe solteira…
Mas antes que eu nascesse e a separação do meu pai se desse em definitivo, meu irmão já hávia nascido há um tempão… E mamãe sempre contou histórias, com sorriso no rosto, sobre como desbancava as pessoas que pensavam que ela era a babá daquele bebê do “cabelo escorrido”, em um banho de sol no parquinho do condomínio onde moravam. O cabelo escorrido veio DELA. Mas a cor da pele…. Hum…. Tão diferente… Só pode ser a babá! Muitas vezes depois, ela acostumou com a “brincadeira” e diversificou como pôde, com graça e bom humor, as respostas que dava.

Quando cheguei, já em “berço de ouro” e sem a presença paterna, as coisas foram um pouco diferentes. Dessa vez, ela tinha que trabalhar para sustentar a situação… Então pouca gente nos via em companhia uma da outra. Mas eu era vista em companhia da minha avó, que foi quem me criou. Com a minha avó as coisas eram diferentes; ninguém nunca questionava nada, nem ela mesma! “Não sou negra… sou seis-da-tarde pra baixo. Minha pele é de índia!”. Assim ela dizia… assim criou minha mãe.
Sempre estranhei essa afirmação de ambas, mas isso parecia confortá-las e até mesmo fortificá-las para qualquer situação.

NEGAR O ÓBVIO! Quantos anos elas e tantos da mesma época passaram negando a si, apenas para desviar de insinuações que persistem até hoje? Será que isso custou algo para suas identidades? Será que isso um dia causou algum sofrimento? Sinceramente, não sei! Elas escolheram suas próprias maneiras de lidar com quem eram… E eu também fiz minha escolha.


OLHA BEM PRA MIM…. OLHA BEM PRO MEU CABELO… VOCÊ ACHA MESMO QUE EU NÃO TENHO CONDIÇÕES DE FALAR DA NOSSA REALIDADE APENAS POR ESTAR EM OUTRO QUADRADINHO DE PANTONE?
ME DESCULPE; MEU CABELO É CRESPO, MINHA RAIZ É CRESPA, MINHA ORIGEM É NEGRA! NÃO É VOCÊ QUEM ME DEFINE, SOU EU QUEM CONHEÇO A MINHA HISTÓRIA, EU SOU FRUTO DA MISTURA MAIS AUTÊNTICA DESSE PAÍS. EU TAMBÉM SOU NEGRA.

Rita Lima
@rituxalima

Precisamos ocupar todos os espaços | Dani Mattos

Mah / 24 nov,2017 /ETC

Quando a Maraisa me pediu para escrever esse texto, minha primeira reação foi de alegria: que honra poder ser referência para os meus. Por outro lado, gelei: há muito tempo não escrevo nada. Bom, entre um sentimento e outro, prefiro ter a coragem de enfrentar o frio na barriga e compartilhar pensamentos que há tempos me incomodam.

Esse foi um ano reflexivo para mim no que diz respeito à minha atuação política enquanto mulher negra. No começo do ano, decidi colocar de lado uma postura ativa no movimento e nas discussões políticas e pensar mais na minha carreira e vida acadêmica, ambas em espaços totalmente brancos, elitizados e com pessoas desprovidas de repertório de classe, raça e gênero.

Esse não foi um movimento fácil para mim, pois algo sempre me incomodava. Eu incessantemente me cobrava por não estar promovendo discussões de grande alcance ou relevância para as pessoas.

Felizmente, as coisas começaram a fazer um pouco mais de sentido para mim quando assisti ‘Dear White People’, uma série preta da Netlflix (se você ainda não assistiu, assista!). De todas as personagens da série, não pude deixar de me identificar com o personagem Reggie. Ele sempre estava preocupado em estar na linha de frente de todas as manifestações e discussões, deixando de lado sua vida pessoal, acadêmica e até mesmo sua saúde mental.

Não me lembro o momento exato e nem a personagem que disse isso, mas uma fala de uma das personagens dirigida a Reggie fez todo o sentido para mim e foi o que melhor extraí da série. Era algo como: tudo bem nos preocuparmos mais conosco do que com a luta ativa contra o racismo.

Na verdade, cuidar da nossa autoestima e saúde mental é também travar uma luta contra o racismo.

Tudo bem olharmos mais para a nossa subjetividade, sonhos e anseios enquanto indivíduos. Tudo bem não nos preocuparmos tanto em sermos os melhores e excelentes nos espaços não tidos como nossos. Tipo aquele verso de um rap do Emicida: dez vezes melhor pra ser visto como igual. To cheio.

O que eu quero dizer é que hoje eu entendo que só pelo fato de sobreviver em ambientes ‘não tidos como meu’ já é em si um ato político.

Nós, pessoas negras, especialmente mulheres negras, precisamos ampliar nossas visões e ir em busca de todas as esferas que são de nosso interesse. Sair dos nossos guetos e bolhas para ocupar todos os espaços higienizados socialmente, institucionalmente racistas e tornar esses espaços nossos.

Portanto, pessoa negra que me lê nesse instante, essa é a minha mensagem: seja qual for o momento de vida que você está passando agora, seja qual for sua preocupação no momento, saiba que nenhum grande ato contra o racismo é maior do que o ato de se manter vivo neste país estruturalmente racista.
Cuide de sua autoestima.
Cuide de você.

Dani Mattos
@danimattosx

Cabelo Brasileiro | Wilson Eliodorio

Mah / 23 nov,2017 /ETC

1985, eu adolescente, pseudoartista, enlouquecia com  belezas como Caeteno, Gal; na novela Selton Mello tinha o cabelo comprido e cacheado, e eu com meu cabelo 4A. Resolvi deixar crescer e conhecer quem era esse cara que nascia em mim, mas que era diferente das referencias que eu tinha. Foi uma relação de amor e ódio. Amor porque ele era lindo e ódio por que ele caiu…

O cabelo se foi, mas o amor ficou!

Corta pra 1995, comecei a trabalhar com beleza e, rapidamente, percebi a ausência de modelos negras e muito menos cacheadas ou crespas. As que passaram por mim, foram incentivadas a parar de alisar, a descobrir a entender e me deixar entender além de cuidar deste cabelo tão lindo e especial.

Mas não seria tão simples, o mercado era resistente, a beleza era lisa!

Em 98 ganho meu primeiro prêmio de beleza, com uma matéria com 2 negras, foi um sinal.

Experimentação e persistência .

Pouquíssimas as marcas destinadas a este tipo de cabelo, os produtos eram oleosos, pesados e pensados para os fios relaxados e absolutamente sem volume; além da resistência das clientes e mercado. Elas se sentiam descabeladas, desarrumadas e na contra partida surge a progressiva em 99 e vira paixão nacional. Todo mundo é liso. Que desespero!

Seguimos tentando, 2006 surge uma mulher na minha vida, Tais Araújo. Depois de muito papo e provando a ela que os tratamentos feitos até então, não faziam bem nem a ela, nem ao cabelo. Finalmente ela disse: Eu topo!

Descobrimos, cortamos, fomos aos poucos e ele foi surgindo, lindo, florescendo, mostrando sua personalidade forte e presente.

Junto com ela, todo um movimento pelo Brasil a fora de mulheres descobrindo e aceitando esse cara, esse cabelo orgânico, cheio de mistérios, entrelaces e caracóis.

E estamos descobrindo que nosso cabelo, assim como nossa beleza, são únicos. Fios, texturas e volumes que só existem no Brasil. Eu gosto de chamar de CABELO BRASILEIRO .
Esse fio miscigenado, que recebeu até tabela de curvatura e calendário de tratamento, é um experimento diário que traz sempre boas noticias.

Este momento é de celebração, a indústria olha por nós, nossos cachos crespos brasileiros são invejados e copiados pelo mundo. Aprendemos a trocar informações, que ele gosta de produtos e a gente gosta dele. Portanto compramos produtos e como compramos a industria gosta da gente…  TIM TIM!!

Era pra falar de aceitação, então mundo: ACEITA!

GOSTAMOS DE SER BRASILEIROS, GOSTAMOS DE SER CRESPOS, GOSTAMOS DE VOLUME E

GOSTAMOS DE CABELO!!

ACEITA QUE DÓI MENOS.

Foto Juliana Coutinho @jucoutinho

Wilson Eliodorio
Beauty Artist
@w.eliodorio
www.wilsoneliodorio.com.br

Mulher, médica e negra | Dra Katleen Conceição

Mah / 22 nov,2017 /ETC

Oi!

Quando minha querida amiga e paciente me pediu esse texto, fiquei extremamente feliz! Maraisa, além de minha paciente, é uma pessoa que admiro, que me representa e sempre está pronta para me ajudar. Além de ser uma pessoa de uma personalidade extremamente forte e verdadeira; o que hoje em dia esta muito difícil de encontrar.

Então eu decidi falar de mim, não por egocentrismo e sim porque muitas pessoas me julgam. Criaram impressões de mim que não são verdadeiras; logo achei uma oportunidade para vocês saberem um pouco de mim. Não a Dra Katleen Dermatologista especialista em pele negra e sim a pessoa Katleen.

 

Então vamos lá! Sou a única filha mulher de um casal de gaúchos com três filhos, também sou gaúcha e sou a mais velha; vim para o Rio de Janeiro com meus pais e um dos meus irmãos. Os outros nasceram aqui.
Meu pai, de origem pobre, se tornou medico dermatologista coronel e perito medico. Minha, mãe dona de casa, sempre esteve ao nosso lado durante toda infância. Morei sempre na zona sul do Rio de janeiro e estudei em um colégio alemão. Muitas pessoas irão falar: “Então sua vida foi fácil…”. Realmente, não tenho histórias tristes para contar e sim obstáculos que tive que vencer, igual a todo mundo. Meus pais sempre valorizaram os estudos; na infância não fui à Disney, não tive festa de 15 anos não queria ser paquita e nem Xuxa era minha ídola.

Meu pai me criou lendo uma revista americana Ebony (que ele trazia de suas viagens para os Estados Unidos, Viagens essas que ia sozinho pois não tinha condições de levar todos). Ouvia Stevie Wonder, Donna Summer, Almir Guineto, Bebeto, Alcione, Só Pra Contrariar. Passávamos os finais de ano em Porto Alegre, onde toda a minha família fortalecia minha negritude; pois no Rio de janeiro era sempre a única com os meus irmãos. Mas, meu pai sempre nos encheu de autoestima e nunca nos deixou pensar que não poderíamos; afinal ele ja havia conseguido tanta coisa!

Cresci ouvindo que era linda e mais inteligente, capaz de vencer qualquer situação. Meu pai nunca me permitiu chorar… Falava que enquanto estava chorando as coisas estavam acontecendo.
Prestei vestibular para medicina três vezes, pois ele se negava a pagar particular, até que no ultimo ano implorei a ele; já que estava muito difícil passar para federais…
Acontece que os últimos anos do colégio fiz em Manaus, na época ficamos  por 2 anos na cidade, devido ao fato do meu pai ser major. E, ao retornar ao Rio de Janeiro, não conseguia dar conta das matérias básicas para medicina, pois muitas não tive no colégio de Manaus.

Meu pai falava “Você será uma grande medica, igual a mim e de preferência dermatologista.”
Passei para Teresópolis, cidade do interior do Rio, foi um dos anos mais felizes da minha vida. Logo fiz amigos queridos e percebi que tinha eu e mais duas meninas negras; mas eu sempre fui líder e confesso que fui descobrir que a minha cor realmente poderia ser um problema para as pessoas, porque para mim nunca foi, quando decidi fazer dermatologia.

A princípio queria ser pediatra. Quando me formei fui dar plantão de pediatria aos finais de semana e durante  a semana estudava pra residência medica. Um dia após um plantão de 24h no Hospital de Belford roxo (baixada do Rio de Janeiro), um sábado de carnaval onde todos os médicos faltaram e só eu fui, tive que permanecer pois caso contrário seria abandono de plantão. Atendi 400 crianças sozinha, se quer comi, fiz incontáveis remoções e não sei como sobrevivi ao stress! Nem dormi naquele dia, foi realmente Deus que me ajudou…
Então cheguei em casa e falei com meu pai chorando que não estava feliz e que não queria ser mais pediatra; acho que por causa daquela situação desumana que vivi. Aí ele falou: “Seja dermatologista como eu!”

Lá fui eu para uma instituição de dermatologia, realizar estágio. No serviço que escolhi, acabava de liberar uma vaga (coisa de Deus) e ali descobri que eu era raridade… Única negra, não era loira, nem rica e nem tinha padrinhos para me ajudar. Me colocaram logo no estágio de enfermaria de dermatologia (lugar que ninguém queria na época, pois todos queriam ir logo para o ambulatório para atender e ter experiência para suas clínicas).
Na enfermaria atendia pacientes graves, muitos com aids e doenças venéreas. Passava finais de semana passando visita… Lá na enfermaria eu era feliz, pois atendia pessoas que precisavam realmente ser cuidadas, muitas abandonadas pela família e me tratavam com respeito o tempo todo como uma doutora. Durante 2 anos fiquei na enfermaria pois fazia as provas para a pós graduação de dermatologia e não me deixavam passar. Mas aí aconteceu a virada: no terceiro ano fiz novamente, já desanimada e exausta, mas com minha família sempre ao meu lado. Estava casada e meu esposo Alessandro sempre ao meu lado e o resultado? PASSEI EM 1º LUGAR!!!!

Na época foi o assunto da dermatologia, mas passei para outra instituição em Niterói, não dava para ficar em um lugar que fazia questão de  tentar me menosprezar e tentar  me deixa inferior. Estudar na Universidade Federal Fluminense foi maravilhoso! Fiz grandes amigos, professores maravilhosos e aprendi muito. Apresentava muitos casos na dermatologia e em congressos, com um amigo fiel Rodrigo Bragança, meu amigo até hoje; aos finais de semana eu e ele dávamos plantão em São João de Meriti, para pagar as contas de casa, já que durante a semana estávamos na pós graduação.

LOGO, NO TOTAL, FIZ 4 ANOS DE DERMATOLOGIA. Após 4 anos fui para o exército, meu pai medico ja coronel, não quis que eu fosse para o consultório dele pois disse que eu tinha que ter mais experiência dermatológica.
Lá fui eu como tenente temporária, e la fiquei por 7 anos. Fiz minha segunda pós graduação de medicina estética onde fiquei como professora durante 5 anos. Onde os médicos começaram a me encaminhar pacientes de pele negra pois diziam que eu deveria saber tratar por ser negra. Até aquele momento não havia me dado conta de que realmente só estudava em livros onde as patologias estudadas são todas baseadas eme pele branca.
Ali vi que algo mudou em mim…que tudo na pele negra era diferente. Fui para os EUA e ali conheci uma outra dermatologia, convivi com médicos negros dermatologistas. Voltando ao Brasil, meu marido falou para aprender a mexer no computador (vocês podem não  acreditar eu não sabia usar computador, tudo meu era manual). Criei um blog, criei um facebook e as pessoas começaram a me achar na internet. Já atendia pessoas negras e já havia iniciado laser em pele negra, mas o jogo virou quando atendi o Lázaro Ramos, por intermédio de uma paciente, a mãe de Tais Araújo, que foi ao meu consultório onde atendia plano de saúde. E dali muita coisa mudou e só tem a mudar!!!

Se eu continuar a escrever ja estaremos em um livro! Mas eu quis passar para vocês um pouco de  mim…E se você tiver a oportunidade de me conhecer, podemos conversar mais e fazer um stories, coisa  aqui eu adoro. hahahaha

Um grande beijo a todos!
Dra Katleen Conceição
Dermatologista Especialista em Pele Negra
@katleendermato
dermatologiapelenegra.blogspot.com